sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Resultado de uma insónia

Espero num terraço em Lisboa
sentada num sofá de jardim
por uma vontade de dormir
que hoje não se encontra em mim.

Mas não me custa esta espera
pelo contrário está a ser interessante
pois olho para esta cidade
que tem brilho de diamante.

Vejo tantas luzinhas,
os candeeiros na rua e as janelas
mas aquelas que se reflectem no rio
são sem dúvida as mais belas.

E essas são as vaidosas estrelas
que hoje vieram o céu embelezar
e trazem magia à noite de Lisboa
acompanhadas pelo luar.

Decido perseguir o rio
percorrendo-o com o meu olhar
e ele corre a fugir de mim
e esconde-se no mar.

E este revoltado de ciúmes
faz o seu leito balançar
mas sempre tendo em atenção
os barcos nele a pescar.

Esses são pontos minúsculos
que se vêem trémulos e inconstantes
no mar que é a sua vida
sendo as mulheres suas amantes.

Passa um carro perdido
e mesmo com a estrada vazia
faz-se ouvir com o barulho
da velocidade a que ia.

É a pressa da vida
ou a vontade de chegar
apenas porque vai cansado
ou porque mais tarde terá que se justificar?

Não sei, limito-me a ver
e a usar a imaginação
baseando-me nos estereótipos existentes
na vida de uma civilização.

E olho para o céu com o propósito
de encontrar um avião
porque isto é cidade e não campo
e o silêncio aqui é ilusão.

Só sente falta do silêncio
quem a ele está habituado
e tenho a certeza de que no campo
dormia o meu soninho descansado.

Também é verdade que se não dormisse
não viria com certeza este belo cenário.
Se me sentasse nos degraus da varanda
no máximo ouviria um canário.

Um canário ou um Sr. Mocho,
que num ramo de uma árvore qualquer
me diria na sua linguagem
vai dormir que é o que o teu corpo quer.

E eu no campo não teria opção
iria para a caminha de certeza
porque à noite no campo e sozinha
não deixo de ser uma presa.

Aqui é diferente sem dúvida
não tenho receio de na rua estar
mas apenas porque tenho um terraço
situado num terceiro andar.

Começar a escrever não foi boa ideia
porque deixei de estar à espera do soninho
entusiasmei-me a escrever o poema
e sussurro as palavras baixinho.

Vou pedir aos anjinhos que mo leiam
agora que o vou acabar de escrever
e pode ser que a sua ternura
me consiga adormecer.

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