quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Porque não publicar?

Porque não publicar momentos
que nos marcam de forma positiva
adornados de sentimentos
que deixam a alma imaginativa.

Porque não publicar pensamentos
que nos preenchem na solidão,
vêm e vão com os ventos
característicos de qualquer estação.

Porque não publicar saudosismos
de alguém por quem somos apaixonados,
cuja ausência nos abala como sismos
e o passar do tempo nos deixa devastados.

Porque não publicar sensações
que ficam em nós marcadas
das mais íntimas manifestações
com desconhecida ousadia reveladas.

Porque não publicar segredos
resguardados nas palavras escolhidas,
libertando-nos de todos os medos
ou decisões mais comedidas.

Porque não publicar fraquezas
por nós próprios reconhecidas
justificativas das defesas
que mantemos em nós escondidas.

Porque não publicar com sinceridade
a dor de um amor que acabou,
o quanto nos magoa a saudade
mas vale a pena pelo que ficou.

Porque não publicar uma emoção
retida no receio do julgamento,
que aprisionada entra em ebulição
e sozinha alimenta o sentimento.

Porque não publicar palavras apenas
conjugadas com enorme prazer,
que caem tão leves como penas
para quem tiver interesse em ler.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Cama desfeita

Lençóis de um branco imaculado
em raios de sol enrodilhados
num amanhecer de verão.
Corpo amolecido e deitado
mantém os olhos fechados
contra a claridade da radiação.

Dá-se o primeiro pestanejar
com um grunhido rabugento
de pouco sono dormido.
Depois do segundo e do terceiro
um delicioso espreguiçar
com um prazer desmedido.

Rola o corpo na brancura
numa ronha merecida,
sem horas para levantar.
Mas o calor aperta em demasia
e a vontade quer a partida
para a praia se aproveitar.

A moleza tem peso de tonelada
mas com movimentos lentos
procura-se o elixir do despertar.
Em minutos o chiar da cafeteira
torna preciosos os momentos
com a caneca na mão a fumegar.

Novamente na fofura das almofadas,
as cortinas completamente corridas
e as vidraças abertas para o sol entrar.
Num gole saboreia-se o café,
recuperando-se as energias perdidas
para um novo dia que está a começar.

A cama?...essa fica desfeita…
a arejar com a brisa do mar
e engoma-a o sol a preceito.
Só a mim tem que agradar
pois é nela que me vou deitar
sendo o sonho o meu leito.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Gula

Raios de luzes coloridas
rodopiam no ar coordenadamente
fazendo de tecto a uma arena
onde o chill out cria ambiente.

Vultos perfumados e frescos
hidratados da exposição solar
que desaprendem a andar vulgarmente
levando-os a confiança a desfilar.

O olhar guloso perde a timidez
tornando-se incisivo e penetrante
pois o espírito está solto de defesas
e revela-se selvagem e desinquietante.

O ego tem fome de vaidade
e alimenta-se de comentários de terceiros
escutados pelo canto do olho
na leitura de uns lábios traiçoeiros.

Manadas de leões e leoas
atentos e esfomeados de prazer
subtilmente engendram a estratégia
para o ataque à presa a comer.

Ouvem-se rugidos de confronto
oriundos da concorrência em demasia
por semelhanças de gostos nas escolhas
que a imaginação sem possuir fantasia.

Num silêncio ensurdecedor
ouve-se o assanhar das garras escondidas,
assim como eriçar do corpo para a conquista
que se faz com atitudes em nada comedidas.

Não há espaço para passos em falta
é uma mente cientificamente homicida
que com frieza comete o crime
repetidamente sem ficar desvanecida.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Férias de luxo

Peço um café americano
numa esplanada em cima da areia,
tiro o bloco de folhas brancas
e a caneta começa a compôr a teia.

Palavras que vão surgindo iluminadas
pelo calor de verão e o cheiro do mar.
A imaginação liberta da responsabilidade
está dentro de mim a ferver e borbulhar.

Observo as pessoas que à praia chegam
caminhando leves de preocupações
mas carregando a tralha täo característica
do típico Português e suas tradiçöes.

O sol espreita pelas ripas de madeira
pintadas de branco que cobrem o bar
e a sua incidência permanente
fazem com que sinta a pele a queimar.

Bebo o meu café ainda fumegante
e acendo um cigarro para o saborear...
é um tempo sem relógio o que aqui passo
que desejo arduamente que demore a terminar.

Falo com o empregado de outros anos
para nas minhas coisas dar uma espreitadela,
pois a praia hà muito que me está a chamar
e eu também quero estar junto dela.

Momento único o de chegar à areia
e os chinelos dos pés descalçar,
sentir os grãos quentes e grossos
por entre os dedos a penetrar.

Deixo a toalha enrodilhada à beira mar
e tiro as calças brancas esvoaçantes
mergulho de rompante naquela imensidão
que deixa qualquer corpo e alma refrescantes.

Passo o corpo pela toalha para não pingar
e sacudo o cabelo para tirar o excesso.
Volto a vestir as calças com o biquini molhado
e regresso à esplanada...e nada mais peço.

Férias de luxo e de preenchimento,
sendo o meu luxo aquilo que me dá prazer
dispenso as pulseiras do "tudo incluído"
ou os gastos exorbitantes de um frívolo viver.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Fundição

Surpreendidos numa multidão
que num acaso imprevisto nos juntou
cruzámos os olhos como faróis
incandescentes da recordação que ficou.

Não nos preparámos para a reacção
que o corpo não conseguiu suster
provocada pela saudade retida
nos tempos de um comum viver.

Éramos convidados no acontecimento
que decorria com normalidade,
só para nós estava a ser diferente
pela força desmedida da vontade.

Perdidos num labirinto de pessoas
que animados estavam a conviver,
queríamos ter o poder de estalar os dedos
e fazer toda a gente desaparecer.

Erguemos a cabeça entre tantas outras
procurando aquele olhar conhecido
que caminhava orientando um corpo
gelado e que tremia estarrecido.

Quando estaríamos frente a frente?
Era pretensão dos dois voar
mas apenas nos podiam servir as pernas
que com os obstáculos só conseguiam andar.

Desconhecíamos a direcção correcta
mas havia uma força interior
que sabiamente nos orientava
no reencontro com esse velho amor.

A vida tinha seguido para os dois
mas curiosamente estávamos sozinhos
por cessação de outras paixões
das quais nem cinza restava nos caminhos.

Num recanto mudo encontrado
que nem sabíamos ser possível
voltámos a cruzar os olhares
ofegantes e com um brilho infalível.

Tinham-se acabado as palavras
mesmo sem nenhuma ter sido proferida
pois comunicaram por nós as recordações
guardadas de toda uma vida.

Fundiram-se os corpos, um no outro
numa avidez e liberdade...
apenas possível porque não esquecemos
os momentos de plena felicidade.

Amiga adoçante

O mundo em que vivemos
está cada vez mais cheio de gente
mas reconheço a complexidade
em encontrar uma pessoa decente.

Em boa hora dei ouvidos
a alguém que muito me ama
e assim que a conheci
acendeu-se do rastilho a chama.

A partilha de uma fraqueza
nunca é fácil na generalidade,
mas há elos que nos fazem falar
assentes nos princípios da amizade.

Foi cumplicidade tão sentida
que me permitiu resvalar
de um pedestal inexistente
onde me estava a segurar.

O estímulo veio das suas palavras,
de um profissionalismo com vontade
que me convenceu a acreditar
que os resultados viriam de verdade.

Mais aplicada ou incumpridora
nunca de mim desistiu
e partilhei consigo a alegria
assim como o choro que sumiu.

Ainda não atingi o objectivo
mas luto por ele custe o que custar
e a sua presença na minha vida
não me permite desanimar.

Não há agradecimento possível
para quem me faz tão feliz,
mas posso oferecer-lhe este poema
que com amizade e carinho fiz.

Para a "minha" Doutora Vandinha