sexta-feira, 24 de junho de 2011

Cruz do amor

Sinto que nos aproximámos
recentemente na vida…
fruto de uma maturidade
que não era reconhecida.

Serões de conversas que fluíram
sobre assuntos, quase segredos
que os dois sem darmos conta
revelámos sem receios nem medos.

Analisámos tabus da sociedade
e tendo consigo o poder da repreensão,
ensinou-me que a vida só vale a pena
quando vivida com o coração.

Entristece-me que se culpabilize
por erros cometidos no passado,
e não suporto a insistência em carregar a cruz
como se fosse um condenado.

Tem aqui uma mulher que o ama
desde sempre mas hoje activamente
e que está à sua inteira disposição
para o ouvir descarregar tudo o que sente.

Amo-o não só pelos laços de sangue
mas pelo ser humano que é…
e garanto que só lhe darei descanso
quando o sentir com força e de pé.

Não se iluda a pensar que faz o melhor
ao assumir dos outros a responsabilidade de viver,
pois se os carregar sempre ao colo
é mais fácil que a andar não queiram aprender.

Ofereça-se como bengala,
partilhe o mapa do apropriado caminho
e não se esqueça de congratular
aquele que com vontade lá chegar sozinho.

Não teime em querer ter tudo,
nem se menorize por não o conseguir.
A esperança só está para os audazes
que na vida não se deixem dormir.

O meu presente é a cruz do amor
que ouso nas suas costas aparafusar
para que tenha sempre presente
que é o único peso que tem que carregar.

Parabéns Tio Dadinho com muito amor.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Coração pintado de fresco

Acabado de levar o primeiro banho,
pairando no ar o odor a tinta fresca
de uma base que representará a eficácia
do resultado final da obra pitoresca.

Base que se compôs da revelação
de qualidades intrínsecas do pintor
que conseguiu laços de empatia
com o imperioso órgão do amor.

Na lata de tinta caíram os olhares...
Trocados no inicio com acanhamento
e também com a perspicácia necessária
para não se perderem no esquecimento.

Posteriormente adicionou-se a sintonia...
Na conversa e postura perante a vida,
assim como a astúcia no contornar as defesas
às quais a modelo se encontrava rendida.

O humor foi coagulante de excelência
dando espessura a um líquido aguado
resultante da falta de certeza…
que nunca o pintor poderia ter solucionado.

O pigmento escolhido é uma raridade,
até que se prove algo em contrário,
é feito da sinceridade e pureza de um eu
singularmente revelado ao destinatário.

A consistência da base foi também comprovada
com a aprovação do toque e beijo de tinta do pincel,
elementos sine qua non para uma boa aderência
mesmo que a tela escolhida seja a própria pele.

Coração pintado de fresco por uma base
e nunca assumindo também saudoso pela cor,
prova disso são os minutos a pensar no esboço
já interiorizado com carinho pela modelo e o pintor.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Cabeça não resolvida

Distinta de cabeça “mal resolvida”
por não estar relacionada com ninguém,
a não ser com o nosso próprio eu
e a sanidade mental que ele não tem.

A experiência e vivência do passado
deixaram a forma de entrega encurralada
podendo ser normal aceitar um improviso
ou por e simplesmente não dizer nada.

Aceitam-se os primeiros convites,
pois o entusiasmo continua a ser sentido
mas tal como o vento muda de direcção
também assim se sente o nosso eu perdido.

Reconhecem-se qualidades procuradas
num estereotipo entendido como ideal,
mas irrita e sufoca-nos um mero contacto
que ontem era classificado como tão normal.

Pesa-nos positivamente a vida que tínhamos
mesmo frouxa ou sem qualquer imprevisão.
Acomodados a uma desvitalizante segurança
que nos permite estar na maior sem consumição.

E classificamo-nos como seres cruéis,
não merecedores dessa oportunidade
porque impulsivamente decidimos
abolir qualquer forma de continuidade.

Contornamos a irreflexão para uma atitude
mas mesmo depois de tudo estar pensado
assumimos a culpa singularmente
e optamos por deixar tudo inacabado.

A liberdade de há tanto tempo é reclamada,
iludidos de haver alguém que a quer roubar
quando o único ladrão é somente o nosso eu
que não resolvido nos tira as asas para voar.

O alívio sentido a seguir é confortante
mas nas horas vagas a conversar com a solidão
recordamos e revelamos a pequena aventura
que por momentos nos fez abrir o coração.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O colesterol do coração

Quantas vezes o sentimos pesado,
entupido de alimento não ingerido?
Ou serão sobras, restos de um sentimento
que ainda não foi por nós esquecido?

Peso transportado quase que penosamente
por a regime nunca ter sido sujeito
e só da nossa força de vontade
resulta o alívio que se pode sentir no peito.

Durante anos abrimo-lo para deixar entrar
gente que fez parte da nossa vida.
Mas quantas vezes fizemos a limpeza
de cá de dentro retirar o pó da despedida?

E com os anos ressente-se tornando-se obeso,
enchendo-o massa gorda sem produtividade
que o aumenta desmedidamente de tamanho
mas sem relação proporcional à felicidade.

De nada serve guardar sentimento morto
mesmo que na recordação haja uma história.
Se o receio é poder passar para o esquecimento…
o que é importante fica alojado na memória.

Tornemos saudável esta fonte de entrega
queimando afincadamente todas as calorias,
e permitindo apenas que nele entrem
pessoas que se apliquem em dar-nos alegrias.

O colesterol do coração é eliminável,
depurando a alma de tudo o que não interessa.
Conseguimos desta forma ser selectos nas escolhas
mesmo que a porta se abra menos depressa.

O Santo António já começou

Lisboa veste-se vaidosa
de cores garridas de alegria
e chama para rua os seus
ansiosa pela sua companhia.

Carregam-se fogareiros com carvão
para a fartura de febras e sardinha
tão saborosas por cima do pão
que lhes serve de caminha.

Garrafões de litros de vinho
e inúmeros barris de cerveja
para a todos matar a sede
que perdura até que o sol se veja.

A pouco e pouco reúnem-se pessoas
ao longo da grande artéria da cidade
para assistir ao desfile das marchas
que enfrentam a Avenida com vontade.

O delicioso espírito bairrista
demonstrado nos ruidosos pregões
que se ouvem ao longo da passarela
sobre a qual recaem as atenções.

Os denominados apenas foliões
ignoram as marchas populares
e disseminam-se por toda a Lisboa
pelos mais variados lugares.

Desde a incómoda descida da Bica,
o longo caminho até ao Castelo,
os estreitos trilhos de Alfama
onde se escuta o Fado mais belo.

Fado esse não destino mas cantiga.
Voz da alma que se exprime com saudade,
Palavras feitas de sentimento desmedido
e ouvidas como Património da Humanidade.

O ar é perfumado com manjericos
que se cheiram com o simples passar da mão
e lêem-se as quadras das bandeirinhas
memorizando-se as que falam ao coração.

Cidade iluminada pela luz ténue dos balões
que decoram a ruela mais escondida.
Em Lisboa o Santo António já começou
e há que gozá-lo antes que esteja de partida.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Nós de amor

Somos resultado do desatar de um Nó
a partir do momento em que nascemos
e pela vida procuramos atar outros
com os quais nos identifiquemos.

São Nós de amor nas inúmeras formas,
vínculos de sermos animais sociais.
Partilha advinda da necessidade
de nos emaranharmos com os nossos iguais.

Nós impossíveis de desatar
por serem de sangue atados
e Nós que com um simples sopro
deixam de estar entrelaçados.

Nós que nos consolam na tristeza
e outros que nos injectam alegria.
Nós que embora russos de existência
são para sempre a melhor companhia.

Nós de cumplicidade com o mesmo sexo
através dos quais circula secreta informação
e Nós de entrega e química com o sexo oposto
capazes de nos fazer atingir a levitação.

Nós que julgamos morrer por não atar
tal é a convicção do sentimento
e Nós que nos tiram vida quando atados
porque se uniram por ilusão do pensamento.

Nós que nos esforçámos por alcançar
lutando com exasperada vontade
e Nós que deveríamos já ter desapertado
mas mantemo-los por comodidade.

Nós que subsistem a qualquer intempérie
pela verdade e pureza que os une
e Nós que a gota da chuva vai aliviando
com a dor da desilusão que os pune.

Nós que mantemos no subconsciente
e aos quais estamos presos sem soltura
e Nós atados por míseros momentos
mas pelos quais ainda sentimos ternura.

Nós que permanecem depois da vida
pela incontrolável dor da saudade
e Nós com elasticidade eterna
por estarem atados com amizade.

Nós que fazem de nós o nós que somos
permanecendo ou não hoje apertados,
uma vez que todos os Nós de uma vida
só se atam sendo por nós desejados.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dia da Criança

Jorram sorrisos como água,
gritos estridentes de alegria.
Coligações partidárias e adeptas
de viver da vida o dia a dia.

Espíritos selvagens, endiabrados
que cativam pela leveza do pensamento,
assim como nos pasmam e deslumbram
os diálogos partilhados com sentimento.

Pequenos seres humanos puros
da escura poluição da maldade,
demonstrando-se tão destemidos
na divulgação da sua identidade.

Não há defesa nas palavras que dirigem,
nem hesitação na demonstração de carinho,
pois a regra base da sua entrega
sustenta-se no receber de um miminho.

Óptimos Personal Trainers de um adulto
na persistência no desafio para brincar
oferecendo os melhores alongamentos
quando correm para nos abraçar.

Pulam e saltam como se voassem
entretidos sem qualquer materialismo.
Vestem roupas coloridas e práticas
descurando a aparência do consumismo.

Ridicularizam e advertem as pessoas
quando julgam ter algo a dizer,
partilhando opiniões por vezes tão certas
que desarmam quem os tentar repreender.

Dissertam sobre assuntos e problemas
dos quais ouvem falar ao seu redor
e apresentam soluções peremptórias
como se já as tivessem de cor.

Sentem quando disfarçamos um mal-estar
ou quando tentamos esconder uma dor
e procuram incessantemente por um sorriso
oferecendo desmedidamente o seu amor.

Dava tudo para ser capaz de ter no colo
e presentear todos as crianças do mundo
com a mínima condição de felicidade
que é tudo o que elas merecem no fundo.