quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Valores como a tabuada

Recordo dos tempos da inocência
um cântico inúmeras vezes repetido
para que ficasse apreendido,
ou memorizado sem ciência.

2x1 = 2
2x2 = 4
2x3 = 6

Não é saudosismo, é problema…
certos valores bases da personalidade
serem hoje encarados com vulgaridade
deixando ao ser humano um dilema.

Sendo pergunta (penso que enumeramos)
os pilares em que nos amparamos
para distinguir o certo do errado.

Mas há tanta gente que sem os sentir,
sobrepõe razões que não deviam existir
sendo a felicidade o objectivo procurado.

Custa-me a aceitar o desprendimento
de ter nas atitudes um padrão,
que provém da nossa educação
e que justifica o nosso procedimento.

Mas há quem cegue por ansiedade
e esqueça a conduta da coerência
de onde advém sólida a experiência
de uma vida e a sua complexidade.

E só os consigo considerar perdidos,
saindo eles como os mais feridos
da sua atitude mundana.

Valores como a tabuada
que se remodelam numa chapada
e destroem a essência humana.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Mentalidade fechada

Vejo-te as palas à mudança
devido ao tempo de estagnação,
no qual entraste em negação
a favor da tua desconfiança.

Ninguém quer que deixes de ser
a personalidade que construíste
e que à tua maneira instruíste
para um dia não viveres a sofrer.

Solta-te e desbrava o desconhecido
porque o receio te deixa contido,
acorrentando o teu eu mais bonito.

Arrisca porque a fugir não vais saber
o que te poderia acontecer…
Permite-te voar pelo infinito.

Ninguém morreu por sofrimento
mas há registos de ansiedade
de quem vive agarrado à vontade
num depressivo pensamento.

Acorda e ao menos tenta reagir,
não deixes nada por viver
porque te vais arrepender
desse mergulho não emergir.

Ainda com o corpo escondido
vais deixar de te sentir perdido
e com vontade de conquistar.

Todas as metas de uma corrida
que não é mais do que a vida
à espera para te cumprimentar.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Sal sedento

Sinto-o a cair com o pestanejar
por se ter alojado com o calor,
resultante de uma noite de amor
que num deserto me fez acordar.

Custa abrir os olhos com a luz
de um Sol abrasador emanada
ou por não me querer acordada
de um sonho que me seduz.

A brisa embate árida e quente
nos estéreis sinais de vida
onde a natureza adormecida
descansa de desempenho ardente.

Pica a areia na pele queimada,
os lábios enrugam ressequidos
de todos os beijos recebidos
durante a aventura fabulada.

Vejo-o no corpo a aglomerar-se
formando linhas nas pernas e braços
comparadas às marcas dos abraços
que subsistiram a amontoar-se.

Não vislumbro gota de água
e o sal sedento o corpo corrói
mas perpétua memória não destrói
por ter sido guardada sem mágoa.

Valeu a pena

Valeu a pena ter vivido
por um dia ter sentido
o toque da tua mão.

Valeu a pena ter vivido
por um dia ter ouvido
a dormires tua respiração.

Valeu a pena ter vivido
por um dia ter sabido
o que é realmente amar.

Valeu a pena ter vivido
por um dia ter recebido
o teu único dom de beijar.

Valeu a pena ter vivido
por um dia ter adormecido
no teu peito como almofada.

Valeu a pena ter vivido
por um dia me ter arrependido
de não me ter mantido acordada.

Valeu a pena ter vivido
por um dia ter retido
o teu aroma no meu nariz.

Valeu a pena ter vivido
por um dia ter sido
a prova de que fui feliz.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Medo da Intimidade

Resistência à entrega, e a confiar
por receio do controlo e rejeição,
identificados como travões da relação
que com outro avaliamos partilhar:
ficarmos despidos mesmo com roupa
ao desvendarmos aquilo que sentimos
pela indomável necessidade de mimos
que nos deixa a razão muda e mouca.

Consciencialização do poder, experiência
porque todos tivemos um passado
um primeiro amor que saiu destroçado
e que nos ofereceu alguma sapiência:
é um perigo delicioso de ser vivido
quando com o outro partilhamos
e sem defesas nos entregamos
apenas valendo aquilo que é sentido.

Adolescência de ilusões, frustrações
que ao mais tímido enclausura
temendo até a mínima ternura
ou incentiva a coleccionar relações.
Na juventude há facilidade em recomeçar
mas a maturidade impede o desafio
ou o coração luta para se manter frio
mesmo anoréctico por não se alimentar.

A possibilidade é constantemente sabotada
mesmo sendo incompreensível, contraditório
optarmos por amar não o tornando notório
e considerarmos a distância contratada.
Demitimos da nossa vida a esperança
colocando diariamente um tijolo
para a construção de um muro tolo
que só gera solidão e impede a mudança.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Pai

Trazia consigo a personalidade
de um leão que a selva domina
perante qualquer obstáculo,
sem nunca fazer disso espectáculo
sendo a família a sua mina.

Caminhava com passo firme
apoiado na determinação
que desde sempre utilizou
nas personagens que desempenhou
neste palco de actores sem ficção.

Tinha a voz que se fazia ouvir
por expressar a experiência
de quem só de si dependeu
e que tudo sozinho sofreu
para facilitar aos seus a existência.

Fazia presença insubstituível
numa conversa com temas sortidos
pela cultura resultante do interesse
de tudo o que realmente valesse
e lhe despertasse os sentidos.

Sabia o que era ser um Pai
e tinha em si o meu consolo
que mesmo no paraíso de uma ilha
preferia usufruir dele como filha
sem ter que passar por este dolo.

E seguiu deixando as pegadas
daquele que será o meu caminho
para sem hipótese de me perder
reencontrá-lo quando tiver que ser
e nunca mais o deixar sozinho.

AMO-O ETERNAMENTE

Vontade

Força motriz traduzida em actos
que aniquila a doença do impossível,
tornando todo o objectivo possível
transformando as palavras em factos.

Poder gratuito e arrebatador,
se nela acreditarmos piamente
nas atitudes, não apenas na mente
e identificamos em nós o vencedor.

Sobre todos os medos e receios,
complexos, tristezas, devaneios
maus dias ou plenas frustrações.

Extermina o ser deprimente,
que nos deixa a alma doente
e supera as nossas limitações.

Não se contenta com a queixa,
contraria a passividade
mesmo na luta da saudade
e a fonte das lágrimas fecha.

Acredita na força do sorriso
sintetizando o que é relevante
fazendo com que o corpo se levante
para fazer o que for preciso.

Traduz-se em resultados notáveis
que eram para nós impensáveis,
quando tínhamos perdido o juízo.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Soneto do Vazio

Ausência de magnetismo de orientação
nos ponteiros de uma bússola perdida.
Estrela que perdeu o brilho, esquecida
por alguém que a procurava na escuridão.

Horas desperdiçadas com memórias,
de sonhos renegados por uma razão
que só quem a explica é o coração
avaliando e sentindo as histórias.

Nada do que se recebe é bastante
para que alguém se torne relevante
num mínimo viver dos sentidos.

Alimentados à potência do carvão,
por não conseguirem ter uma razão
para nunca mais serem esquecidos.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Pôr de sol

Final de tarde numa praia despida
de todas as pegadas na areia.
Abençoada pela maresia, e pela fantasia
de querer por um dia ser sereia.

Sentir a liberdade assim como a vontade
de desbravar mares desconhecidos,
nadando sem rumo, vagueando no fundo,
procurando por tesouros perdidos.

Sentir os raios de sol a iluminar
um imenso fundo de corais forrado,
vir à tona para o ar inspirar
e voltar para o cenário encantado.

Estar a milhas da costa e poder observar
a bravura das ondas contra os rochedos,
elas que caminham com determinação
provando que de nada sentem medos.

Ter a certeza que deixo a barbatana
quando a sentir como um anzol
e poder sair de pernas, a andar
para da areia contemplar o pôr do sol.