quarta-feira, 30 de março de 2011

Um novo título – Avó

Quantos títulos carregamos nós
provenientes de termos nascido?
Somos filhos, netos e sobrinhos
desde o primeiro momento vivido.

Há outros que dependem somente
dos nossos sentimentos e decisões
e somos então esposas e mães
num redemoinhar de sensações.

Mas estou a chegar onde quero…
Aqueles que em nada dependem de nós
e num dia um filho ou filha comunica,
que vamos ter o título de avós.

Para a Tia esse dia já chegou
e sinceramente nem consigo imaginar...
a ansiedade, preocupação e alegria
de ver a família a aumentar.

O coração tem realmente razões
que a própria razão desconhece
porque ao vê-la hoje com o Afonsinho
é uma imagem que não se esquece.

Já parou para tentar quantificar
a quantidade de amor que ainda continha?
Quando pegou pela primeira vez ao colo
o ser minúsculo que lhe chamará Avozinha.

Mais uma vez entregou-se de corpo e alma
e transborda ternura com um só olhar.
Desde o primeiro momento do dia,
até quando o vai à noite deitar.

Estranho este sentimento infindável
que teima em continuar a crescer.
Mais uma etapa desta vida
que serve de justificação para se viver.

Parabéns minha Tia e também Madrinha,
mais dois títulos só a mim relacionados
e espero que os continue a acumular
porque são todos muito bem desempenhados.

Para a Tia Rosarinho. Grande beijinho

Tempestade

Auge da brutalidade da natureza.
Demonstração de raiva avassaladora,
traduzida pelo som repetitivo dos trovões
numa discussão ensurdecedora.

O que quererão eles dizer-me?
Porque não os consigo compreender?
Expressam-se de uma forma persistente
e fazem-se ouvir sem nunca enfraquecer.

Há quanto tempo estou envolta,
neste cinzento carregado?
Que teima em pintalgar o meu céu
em vez de o deixar esbranquiçado.

Podes insistir em permanecer
que pelo teu fim mais não vou esperar,
pois em vez de te ver como tempestade
vou para a rua com a chuva dançar.

Não temerei mais os teus raios
que serão luzes num palco imenso
e rodopiarei por todo ele
aproveitando o teu vento denso.

Podes ser força da natureza
mas não menosprezes o meu querer
porque eu estarei somente a dançar
e a minha alegria far-te-á desvanecer.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Cinzas do teu retrato

Guardo contigo uma história
que decorei por repetir
e não me sai da memória
o dia em que te vi partir.

Guardo contigo um momento
que me fez rir e chorar
e eternamente lamento
se o nosso amor acabar.

Guardo contigo segredos
de tudo o que contigo desvendei,
assim como todos os medos
que só contigo partilhei.

Guardo contigo a saudade
de tudo aquilo que vivemos
e arde em mim a vontade
para que recomecemos.

Guardo contigo um sentimento,
o único puro e verdadeiro
e a razão para o afastamento:
o medo de enfrentarmos este guerreiro.

Guardo contigo a ternura
do primeiro passeio de mãos dadas,
dias de completa loucura
e noites inteiras acordadas.

Guardo contigo o desejo
de te conseguir esquecer,
mas olho para o futuro e vejo
que sempre te vou pertencer.

Guardava contigo um retrato
que findou em cinzas quando o queimei
mas de nada me valeu o acto
porque até hoje as cinzas guardei.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Quantas vezes serão a “última vez”?

Só podes ter um qualquer mistério…
não te procuro mas mexes comigo.
Há qualquer coisa que me tira do sério,
é um tipo de querer que parece castigo.

Não te recordo com saudade, nem dor.
Guardo-te como uma história do passado,
vivida mas esquecida sem rancor
e não te evito quando estás ao meu lado.

Não houve nunca a conversa de um fim,
e justificamo-lo pela falta de necessidade
deste assunto ser enfrentado por ti e por mim.
A ausência do “erro” não extingue a vontade!

Amanhã ou depois tenho a certeza
que o tempo te vai fazer vir procurar-me
e a esta química com leveza
vou sempre querer entregar-me.

Hoje afirmo que não volta a acontecer,
talvez por inexistência de explicação
para o porquê do meu corpo responder
ao chamamento do teu sem hesitação.

Quantas vezes serão a “última vez”
que sentirei esta sede que não é por água saciada?
Bebo e beberei qualquer gota das tuas mãos
mesmo sabendo que só pode estar envenenada.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Como um Interruptor

Vivemos na era da superficialidade,
em defesa de um egoísmo atroz.
Tudo tem que ser à nossa maneira
caso contrário optamos por ficar sós.

Exterminámos a espontaneidade,
em detrimento da precaução
e julgamos demonstrar segurança
quando optamos por dizer: Não!

A louca corrida atrás dos impulsos,
foi trocada pela posição altiva e fria.
Autênticos palermas, perdidos...
refugiados numa vida sombria.

Contentamo-nos com o morno,
de tão insípida ser a nossa emoção.
Resguardamo-nos dos sentimentos
que pretendem detonar a razão.

Perseguidos pela insatisfação,
revoltados, exaltados e angustiosos
porque um dia o nosso passado
fez com que sofrêssemos saudosos.

A dor também é um sentimento
e dos mais nobres por sinal
pois só a enfrenta e ultrapassa
um ser humano descomunal.

Queremos e exigimos demais…
Estando nós tão distantes da perfeição.
Espremendo qual o resultado
de ignorarmos o que nos diz o coração?...

Esse interruptor necessariamente ligado
só vai deixar de sentir no momento da partida
e por muito que fujamos querendo desligá-lo,
triunfaremos apenas no desperdício de uma vida.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Melanina fogosa

Corpo pintado a pincel…
por um pigmento com temperatura
que queima o olhar que o galanteia
mas para a mente não tem censura.

Sobressai a brancura do sorriso
em contraste com a cor de café
e quando nos é dirigido
mal nos aguentamos de pé.

Aroma do fruto pelos raios torrado,
que deixa o desejo toda a noite acordado.
Poderoso veneno que actua como pesticida.

Melanina fogosa, poder de absorção
que pincela a pele com a maior precisão.
Grão que concebe a mais vigorante bebida.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Parabéns Sonhador

Se tivesse que um verbo escolher
para a tua pessoa caracterizar,
não hesitaria em responder
que esse verbo seria o “DAR”.

Dedicas-te ao entendimento geral
porque és peixe fora de água sozinho
e a todos aqueles que te são especiais
ofereces gratuitamente carinho.

Vives num mar de emoções instáveis
porque te é difícil compreender-te
mas juntas todas as variáveis
que a viver conseguem convencer-te.

Saltimbanco no teu dia-a-dia,
sem saberes onde andas ou para onde vais,
procurando sempre a companhia
dos que consideras como teus iguais.

Segues essa intuição interior
sempre alicerçada no sentimento,
seja ele uma amizade ou um amor
tem é que te dar contentamento.

Confessionário e bom conselheiro,
realista na atitude e na palavra
pois nada te deixa prisioneiro
neste mundo que a tua mente desbrava.

Procuras pela entrega eternamente
porque a tua razão de viver é ofertar,
sendo o que fazes constantemente
sem nada, nem ninguém te travar.

Tens uma percepção avassaladora
característica que é por ti temida
mas arranjas força arrebatadora
para sentires que aproveitas a vida.

Gostava de te dar a certeza
do teu valor como pessoa humana,
mas para isso abre a fortaleza
porque a minha admiração não te engana.

Sonhador por conseguires acreditar
que somos todos parte de um só organismo,
daí a agilidade que tens em perdoar
porque a dor é para ti um cataclismo.

Admiro-te com orgulho de te conhecer
e é importante a tua existência,
pois essa tua vontade de viver
cria nos outros dependência.

Para ti estou à distância de um chamamento
mesmo que sussurrado baixinho
pois és humano como todos nós
e também precisas de carinho.

Para o meu "Borginhos"

quarta-feira, 9 de março de 2011

“Coisa”

Bem sei que nada vais ler…
Talvez até essa capacidade tenhas esquecido
ou pode ser que algo tenhas mantido
daquilo que um dia foi o teu viver.

Quem és tu para provocar sofrimento,
a quem dava a vida por ti se fosse solução?
Alguém que secou as lágrimas pela exaustão
da luta para evitar ler teu testamento.

O que deixarias escrito que valesse
o tempo perdido para te recordar,
porque a saudade teimará em apertar.
Mais valia que a memória se perdesse.

Quantos são os que lutam por viver
quando a falta de saúde os atinge?
Esses são alguém que sofre e não finge
porque a doença os veio surpreender.

E os que nem chegaram a nascer
por razões superiores à sua fragilidade?
Eternamente deixarão saudade
a quem tanto os queria ao menos conhecer.

Esse vício não vai resolver o problema…
É que nem deste hipótese de ser ouvido,
e a tua gente ajudar-te-ia terias sabido
porque são a única resolução para o dilema.

Mesmo que te faltasse coragem para partilhar,
deixavas escrito, fazias mímica, desvendavas
aquilo que a ti próprio perguntavas
e irias sentir que existe sempre para nós um par.

Resiste a essa maldita tentação!
Não te permitas ser “Coisa” em vez de humano.
Abandona de vez esse mundo mundano
porque quem te ama não vive com esta situação.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Presa à Saudade

Desconhecia que seria assim
e sei que tu não fazes ideia,
mas por não te ter dado tudo de mim
ficaste preso na minha teia.

Se me tivesse entregue como querias,
no tempo em que estavas cego,
também te desencantarias
pois prender-me-ias, não nego.

Mas se te apaixonaste pelo que sou
não me tentes nunca domesticar,
porque tudo aquilo que te dou
seria impossível conseguir dedicar.

Deixa que me entregue assim,
permitindo-me dar sem pressão
e entende que eu procuraria o fim
se pretendesses ter-me na mão.

Estou certa que gera contestação
eu exigir de ti esta liberdade,
mas prefiro que a condição
seja viver presa à saudade.

Amor só vale assim

Sou capaz de te dar a minha vida
mas não faças pouco de mim,
por me entregar a ti assim
dá-me uma força desmedida.

São a minha alma e corpo com paixão
tudo o que tenho e é realmente meu
e te ofereço, querendo que seja teu
mas no verdadeiro amor não se pede perdão.

Despe-me o teu simples olhar,
tremem-me as pernas na tua presença
é impossível sentir indiferença
mas não desleixo o meu pensar.

Pareço tola e domesticada
por aquilo que sinto aqui dentro
e nada por este sentir lamento
mas só estou anestesiada.

Quando amo é no singular.
Faço tudo para te satisfazer
em atitudes e no prazer
mas não te permitas nem tentar.

E acredita que tens que saber...

Que sou também a mulher
que te deixa se me traíres.
Que aguentará quando partires,
esmagas mas só o que eu quiser.

Quem erra por natureza,
nunca acerta com respeito!
Sairás facilmente do meu peito.
Na tua atitude, a minha destreza!

Não perco tempo com erros banais
porque se sou capaz também o és,
pensa com a cabeça e não com os pés
é o que nos diferencia dos animais.

Faço o impossível para te ver feliz,
mas não serei mulher no teu harém
porque gosto de mim como de ninguém
e corto todo o mal pela raiz.

Nunca te dividirei com ninguém,
por isso não me permitas saber,
porque se isso algum dia acontecer
jamais deixarás de ser um vulgar "alguém".

Para mim o amor só vale assim!
Caso contrário, antes do tiro da partida
define-se toda e qualquer contrapartida
e a meta não é definitivamente o fim.