sexta-feira, 29 de julho de 2011

O ataque é a melhor defesa

Para quê prolongar uma dúvida,
receando enfrentar uma incerteza?
De que se alimenta essa esperança
que extingue do viver a beleza?

Nunca devemos optar não agir
quando nos sentimos desconfortáveis.
Não são as atitudes que destroem
os sentimentos já vulneráveis.

Aceitar uma situação de copo vazio
porque o mesmo se pode encher…
mas se a água cair gota a gota
vale a pena o tempo que se vai perder?

Ataquemos! Pelo amor mas o próprio,
somente este durará toda a vida.
Por muito que o outro nos faça falta
se se alimentar de pena está de partida.

Nos primeiros dias subsistimos
a petiscar as boas recordações
mas rapidamente desfalecemos
por falta de completas refeições.

O ataque é a melhor defesa,
em detrimento de uma espera inútil.
Perdemos o brilho por não estarmos bem
e substituem-nos por qualquer coisa fútil.

Cobertor de estrelas

Saudades destas noites quentes
que permitem um mergulho nocturno.
Silêncio quebrado pelo bater da água
e o coaxar de um sapo taciturno.

Sopra uma brisa e afogo os ombros,
o corpo sente-se melhor submerso.
As pequenas liberdades da vida
são o que há de melhor no universo.

Esvoaça uma coruja entre as árvores
procurando ramo para pernoitar,
não sem antes marcar a sua presença
com o seu característico piar.

Mais umas braçadas de exercício
que em sombras tenebrosas se transformam
resultantes do embater dos focos de luz
que à noite a água da piscina amornam.

Com a cabeça apoiada na pedra,
corpo a boiar e braços estendidos
admiro o negro do céu que faz de tecto
nesta noite que me aviva os sentidos.

Depois do relaxamento e meditação,
elevo-me das águas para a cama de madeira
onde me aguarda uma toalha fofa
e uma almofada bem grande na cabeceira.

Cobre-me um cobertor de estrelas
que com suavidade me adormece,
depois da mente estar aquecida
com os sonhos que a imaginação tece.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Memorável Longueira

Concentração de amizade feminina
promovida por gerência impecável
com o objectivo de celebrar a despedida
que para a noiva teria que ser memorável.

Entre atrasos e peripécias no caminho
que nos levou de Lisboa à Longueira
lá chegaram as tropas ao destino
para fazer feliz a preciosa companheira.

Tarefa árdua a de mulheres reunir
com consenso e sem complicação.
Ajudou-nos um vínculo mútuo:
a amizade sentida no coração.

A D.ª Cafetina ordenou com exigência
e a noiva com rigor tudo executou,
às amigas incluídas no trajecto
nem o tempo de espera desmoralizou.

As pessoas de fora colaboraram
e deviam ser feitos agradecimentos
a todos menos ao “bufo” que viu o jipe
que circulava pelos estacionamentos.

Mesmo depois de caracóis esfriados
e placard de boleia esmorecido,
o Travastock festival aguardava-as
no meio de um Alentejo escondido.

A noiva não trazia a esperada venda
e o peddy paper tinha-a arruinado
mas assim que os seus olhos nos viram
o corpo deixou de se sentir cansado.

Estava o ramo composto e perfumado
e as dunas até à praia pintalgámos
com as cores da vontade e da alegria
e a areia com as toalhas adornámos.

Depois da bela soneca e torradinhas
só a fome procurávamos saciar,
demos início à gestão das banhocas
que mais uma vez foi exemplar.

Deliciosa churrascada se preparou
tendo havido consenso nas tarefas
e conseguimos civilizadamente jantar
todas sentadas à mesa e sem pressas.

O jogo do lençol teve sucesso
para a noiva receber os seus presentes
mas o público desfalecia de cansaço
e o frio fazia bater os dentes.

Animámos com a chegada do Carlão…
que Gato de fazer crescer água na boca!
As calças sexy e o bigode farfalhudo
e a dança que deixou a noiva louca.

Aninhámos a dormir que nem anjinhos
esperando-nos no dia seguinte as arrumações,
que por muito que o panorama não fosse fácil
ficou exímia a limpeza sem complicações.

Sessão fotográfica com a noiva em fuga
querendo apressar a próxima surpresa…
a junção das despedidas foi o culminar
de um fim de semana que foi uma beleza!

Para a noiva Anocas Travassos e todas as damas de honor!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

4 anos…1461 dias…35.064horas

Números não são mais que números.
Marco de tempo com dor recordado
pela ausência da sua forma física
mas um amor diariamente fortificado.

Onde está? Por onde anda?...
Está bem melhor aí quero acreditar.
Fala o egoísmo que me serve de defesa
e me seca as lágrimas para não chorar.

Que injustiça! Afirmo rancorosamente.
Gostava de ter alguém a quem cobrar
para poder gastar a raiva que alimento
desde o dia em que soube que não ia voltar.

Fico satisfeita apenas pela certeza
de que não teve em vida que suportar esta dor
que corrói os ossos com a saudade
e faz doer o coração com tanto amor.

Sei que não o queria cá em sofrimento
e por isso assimilei a notícia com tranquilidade
mas aquilo que desconhecia por completo
era a força avassaladora da saudade.

É desumano a condição que nos foi imposta
por condicionamentos de todo superiores.
Termos que ter vivido o dia-a-dia da vida
sendo da doença meros espectadores.

Quando é que a ciência explica esta lacuna?
Que teima em estar presente nos demais
mesmo que seja tarde para mim
anseio a cura para ninguém sofrer mais.

Como se arranja força nestas datas
para encorajar parte de si a viver?
Quando toda eu me sinto desmantelada
de membros e órgãos com este sofrer.

“Tonecas” do meu coração, Paizinho
AMO-O e exclamo-o em voz forte e alta!
Só neste amor reside a muleta
para continuar a viver com a sua falta.

sábado, 9 de julho de 2011

Um “Bom dia” eternamente MEU

Ainda tenho os olhos fechados mas já o sinto comigo pela força das memórias e das recordações…pelo amor atómico e inabalável.

Sinto o cheiro do desodorizante que se espalhava por toda a casa a seguir ao seu banho matinal e que entrava pelo meu quarto como marco diário de que o Pai já tinha acordado.

Escondo-me por entre os lençóis, fugindo à luz do dia que teima em acordar-me mas não quero abrir os olhos porque o estou a sentir aqui...Procuro deixar uma bochecha de fora, na esperança de receber o meu beijinho e de sentir o molhado da barba ainda mal enxuta.

É tanto o meu querer que sinto…consigo mesmo sentir:

a sua forma física a aproximar-se,
o som dos passos pelo corredor,
a sombra do volume humano a agachar-se na penumbra do meu quarto para me dar um “Bom dia” eternamente MEU.

Hoje recebi-o...QUE SAUDADES MEU PAIZÃO.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Sinais

Aqueles míseros segundos
vulgares como outros mais,
transformaram-se na tua presença
nuns segundos especiais.

O coração que bombeava
litros de sangue no interior.
Ficou estático, petrificado
respondendo a ti sem pudor.

O toque intenso dos lábios
que as duas bocas entrelaçou,
e que inconscientemente
os olhos de ambos fechou.

O estado de levitação…voar
com o preenchimento sentido,
que nos faz esboçar um sorriso
por tantos outros não vivido.

A necessidade de acarinhar
tocando com as pontas dos dedos,
oferecendo pequenas carícias
e ignorando todos os medos.

Mar de lava que surge
oriundo da pontinha do pé,
subindo e incandescendo
sem opção de marcha à ré.

Risos bêbados e palermas
no meio de um olhar que não descola.
Simbiose de sentimentos e sensações
que no fundo da alma se cola.

Palavras trocadas em surdina
como um cântico de sereias,
que arrepia a pele do corpo
e se sente até nas veias.

Os olhos ganham luz com a chama
que com a vontade se acendeu,
comparáveis ao foguinho das velas
de um entardecer que adormeceu.

O tempo é o maior inimigo
teimando em não permanecer extasiado
e continua a passar sem resposta
do corpo que parece inanimado.

Presta atenção aos sinais!
Eles tentam arduamente informar
que à nossa frente pode estar a pessoa
a quem estamos destinados a amar.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Baloiço da Liberdade

Balança entre o sonho e a realidade
em lento embalo ou voo alucinante
dependente da alma triste ou radiante
que nele se senta procurando a verdade.

Balança à chuva, ao sol e ao vento
e só o tempo consegue degradá-lo,
como as rugas que da idade são regalo
que em nós vincam todo o momento.

Mas mantém-se no ramo pendurado
sem se poder mostrar cansado
da incumbência de as almas baloiçar.

Porque ao ramo está acorrentado
e só assim se mantém equilibrado
para o peso dessas almas suportar.

Baloiço da liberdade com ironia
pois não existe sem estar preso ao ramo
assim como qualquer ser humano
que enlouquece sem companhia.

Oscila como o baloiço a nossa liberdade
eternamente presa à moralidade
fundada em tempos de um hoje tão distinto.

Mas ninguém se atreve a alterá-la
por muito que teimemos em criticá-la
reconhecemos que o equilíbrio seria extinto.

sábado, 2 de julho de 2011

Lugar para mim

Cedi bem devagarinho
com medo de me magoar,
podendo tu não ser a pessoa
que quero encontrar.

Fui retendo cada sorriso teu
e sozinha por eles procurei
na memória dos momentos
que com um sorriso guardei.

Devagar fui chegando
sem entender porquê
a um estado de alma
que sofre quando não te vê.

Perdi a conta das vezes…
e esta vez também não me enche
porque o tempo sem ti
é tempo que não me preenche.

É tão profundo o teu olhar
mais do que eu sei dizer…
É um abrigo para voltar
ou tentação para me perder.

Fui entrando pouco a pouco
porque queria entrar assim
nesse local por nós criado
e vi haver lugar para mim.