domingo, 29 de agosto de 2010

Japa Malas

É composto por 108 contas
e uma de meditação a meio.
Encontrei a designação num prefácio
de um livro que ainda leio.

Tem séculos de existência
e o número de contas uma explicação.
Foi encontrado no oriente
e trazido pelos Cruzados com uma razão.

Ajudar os mais devotos a concentrarem-se
nos seus diálogos com um Ente superior.
Passando pelos seus dedos conta por conta
orando com fé em demonstração de amor.

O 108 é múltiplo de três auspicioso
pois a soma dos seus algarismos é 9 = 3x3
e três é o número perfeito
segundo a conta que Deus fez.

Não custa passar a informação
de algo que me suscitou curiosidade.
Não sou devota e esqueço a religião
culpabilizando-a por me fazer sentir saudade.

Mas pensei no interessante que seria
108 momentos ou nomes juntar
por serem especiais pelo valor
que deles guardo no meu pensar.

Vou juntar essas contas num fio de corda
e tê-las sempre comigo através do pensamento.
E ao passá-las entre os dedos com devoção
recordarei a felicidade sentida em cada momento.

Seria o meu rosário da sorte ou Japa Malas
e as contas nele enfiadas teriam para mim sentido
mas não o usaria para orar a um Ente superior
e sim para sentir quem me ama sempre comigo.

Cavalo

Adoro o teu porte físico:
elegante e bem parecido,
assim como o ar selvagem
a cavalgar num prado esquecido.

Prado que dominas e geres
parecendo Rei na sua fortaleza
e carregas no corpo o peso
do prazer de viver na surpresa.

Admiro de longe mas não esqueço
o cheiro do teu pelo suado
que guardo como recordação nítida
como o melhor beijo que me foi dado.

Teus olhos expressivos e meigos
contrariam o que pretendes transmitir.
São uma beleza muito tua que a quem te olha
dizem o que estás a sentir.

Selvagem é a tua natureza
sendo ambição de muitos domar-te
mas essa sorte só reservas
a quem consegue hipnotizar-te.

E então monto no teu dorso
nu sem o querer selar
e as rédeas são as tuas crinas
que aperto nas mãos sem recear.

Não receio para onde me levas
nem sequer quero saber o caminho
pois transmites a segurança necessária
para te saborear como a um bom vinho.

Embriagada ponho os pés no chão
depois de um prazer desmedido
e que não me canso de o procurar
pois só o sinto quando estou contigo.

Férias em Portugal

A fila na A2 em direcção ao Sul
a um carreiro de formigas podia ser comparada.
Aumento o som da música e abro a capota
para o nervoso não me deixar desesperada.

Os telemóveis começam a tocar
pois em tantos carros tinha de haver alguém conhecido
e são amigos que sem termos combinado
partilham o mesmo trânsito comigo.

Desde esse momento fomos anulando
Áreas de serviço por se encontrarem a abarrotar
e optámos por parar em Aljustrel
para sairmos e apenas um beijinho dar.

O clima é único, um calor abrasador
mas o mar que nos espera em nada é refrescante
pois parece caldo verde sem alga a boiar
e encontrar nele um buraco é angustiante.

O pior do nosso Algarve está ainda para vir
basta pensarmos nos serviços que nos são oferecidos.
Se houver mesas disponíveis é para duvidar
pois traduzem-se em inúmeros minutos perdidos.

Entrar num supermercado para comprar o essencial
pode tirar-nos a fome durante o tempo de estadia
pois a fila das caixas é de enlouquecer
e exposto nos lineares só mesmo o que não é do dia.

Para não falar em cenas ridículas que presenciei
como a luta animalesca para garantir na fila o lugar
ou então a correria para os carrinhos e cestos
que supostamente deveriam lá estar.

Adorava estar a mentir ou a exagerar
mas foi uma realidade por mim sentida.
O que dirão os turistas que tanta falta nos fazem…
Sorte é gostarem e não se porem de partida.

Eu vou preparada e sem exigência alguma.
No Algarve procuro apenas o sol para me bronzear
mas mesmo este em dois dias falhou
e o tempo estava enevoado e a chuviscar.

O que vale é a amiga melanina
que sedenta está de qualquer raio solar
e fico com a cor desejada em dois dias
mas é fácil para mim que não demoro a bronzear.