As folhas brancas espalhadas pela manta
que estendi sobre as espigas secas pelo sol,
no cume de um monte em pleno campo
servindo-me de luz um fantástico pôr do sol.
Deitada sonhadora e de lápis na mão,
traço o teu perfil com assustadora exactidão
pois mesmo sem ter modelo, nem molde
expressa tão rigorosamente a tua expressão.
Nitidez sustentada na memória,
na recordação dos momentos partilhados.
Da atenção dispensada na observância
dos detalhes que queria esmiuçados.
Retiro do cesto os boiões de cor
e os pincéis que nem chego a usar
uma vez que prefiro usar os dedos
podendo imaginar que te estou a tocar.
O castanho escuro do cabelo despenteado,
usado também na barba mal aparada
contrastando com o encarnado dos lábios
da tua boca que deixa a minha aguada.
Rasgo-te o sorriso que me desarmou
e sorrio para um papel sem vida
pois acompanham-no as covinhas
que me deixam plenamente embevecida.
O sol esconde-se por entre os montes
parecendo os seus raios focos no chão,
inspiro fundo o ar da natureza
que carrega de energia o coração.
Volto a concentrar-me no retrato
lapidando o nariz endiabrado
assim como a testa e pequenas rugas
que marcam a vivência de um passado.
Afasto a folha para melhor admirar,
falta-me a essência de ti e então penso…
nunca me será possível recriar
aquele olhar que deixara o meu suspenso.
Sem comentários:
Enviar um comentário