terça-feira, 2 de agosto de 2011

Fundição

Surpreendidos numa multidão
que num acaso imprevisto nos juntou
cruzámos os olhos como faróis
incandescentes da recordação que ficou.

Não nos preparámos para a reacção
que o corpo não conseguiu suster
provocada pela saudade retida
nos tempos de um comum viver.

Éramos convidados no acontecimento
que decorria com normalidade,
só para nós estava a ser diferente
pela força desmedida da vontade.

Perdidos num labirinto de pessoas
que animados estavam a conviver,
queríamos ter o poder de estalar os dedos
e fazer toda a gente desaparecer.

Erguemos a cabeça entre tantas outras
procurando aquele olhar conhecido
que caminhava orientando um corpo
gelado e que tremia estarrecido.

Quando estaríamos frente a frente?
Era pretensão dos dois voar
mas apenas nos podiam servir as pernas
que com os obstáculos só conseguiam andar.

Desconhecíamos a direcção correcta
mas havia uma força interior
que sabiamente nos orientava
no reencontro com esse velho amor.

A vida tinha seguido para os dois
mas curiosamente estávamos sozinhos
por cessação de outras paixões
das quais nem cinza restava nos caminhos.

Num recanto mudo encontrado
que nem sabíamos ser possível
voltámos a cruzar os olhares
ofegantes e com um brilho infalível.

Tinham-se acabado as palavras
mesmo sem nenhuma ter sido proferida
pois comunicaram por nós as recordações
guardadas de toda uma vida.

Fundiram-se os corpos, um no outro
numa avidez e liberdade...
apenas possível porque não esquecemos
os momentos de plena felicidade.

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