quarta-feira, 23 de junho de 2010

Tela

Com convicção traço o primeiro risco
sem ainda ter certezas de como te vou pintar.
Ouço o som do lápis a rasgar o silêncio
no meu canto de artista, no meu divagar.

Mesmo sem esboçar mais nada
o preto do carvão é vigoroso
mas hoje estou determinada e tenho que dar cor
a este branco imaculado e imperioso.

Falo com a alma e com a saudade impiedosa
dos momentos vividos no tempo de uma vida
e mesmo pintando só no imaginário
o que quero saber é se a tua imagem foi por mim esquecida.

São precisos mais riscos para te dar forma
e paro admirando-te no esboço à minha frente.
Utilizei uma venda para me testar
mas surpreendo-me por ainda te ter tão presente.

Só te procuro em mim sem nada exteriorizar
e sei que nem mesmo estas palavras tens a possibilidade de ler
porque mesmo sendo o teu mundo o meu
ele só é pequeno para quem se pode ver...

Escolho o pincel e na mão esquerda tenho a paleta
com cores que são as tuas e só eu as sei compor
e começo a decorar-te com adornos e contornos
de feições que retive e saboreei com furor.

Tu sabes que não pinto e que nunca fui pintora
mas com a imaginação é tão fácil desenhar
não descurando a dificuldade da arte em causa
hoje fui pintora porque me ensinaste a pintar.

Como resultado guardo comigo esta Tela
e mesmo que muito queira não a vou partilhar
pois quem a pintou foi o coração
sendo a tinta a ausência de somente um olhar.

Nininhas

Sem comentários:

Enviar um comentário