Com convicção traço o primeiro risco
sem ainda ter certezas de como te vou pintar.
Ouço o som do lápis a rasgar o silêncio
no meu canto de artista, no meu divagar.
Mesmo sem esboçar mais nada
o preto do carvão é vigoroso
mas hoje estou determinada e tenho que dar cor
a este branco imaculado e imperioso.
Falo com a alma e com a saudade impiedosa
dos momentos vividos no tempo de uma vida
e mesmo pintando só no imaginário
o que quero saber é se a tua imagem foi por mim esquecida.
São precisos mais riscos para te dar forma
e paro admirando-te no esboço à minha frente.
Utilizei uma venda para me testar
mas surpreendo-me por ainda te ter tão presente.
Só te procuro em mim sem nada exteriorizar
e sei que nem mesmo estas palavras tens a possibilidade de ler
porque mesmo sendo o teu mundo o meu
ele só é pequeno para quem se pode ver...
Escolho o pincel e na mão esquerda tenho a paleta
com cores que são as tuas e só eu as sei compor
e começo a decorar-te com adornos e contornos
de feições que retive e saboreei com furor.
Tu sabes que não pinto e que nunca fui pintora
mas com a imaginação é tão fácil desenhar
não descurando a dificuldade da arte em causa
hoje fui pintora porque me ensinaste a pintar.
Como resultado guardo comigo esta Tela
e mesmo que muito queira não a vou partilhar
pois quem a pintou foi o coração
sendo a tinta a ausência de somente um olhar.
Nininhas
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