Amadurece a laranja no ramo
sugando a seiva que a alimenta
e o sol vai galanteando
quando este com seus raios a tenta.
Enche-se de um suco doce
que fará salivar os sentidos
de quem a saboreie em solidão
ou quem coma seus gomos divididos.
Frondosa permanece suspensa
no ramo que a viu florescer
emanando um perfume delicioso
que prende a atenção de quem a vai colher.
Robusta e com cor bem definida,
a casca brilhando pelo generoso recheio
numa banca exposta e despida
faltando-lhe apenas o bico de um seio.
Adquirida e colocada na fruteira
na cozinha de alguém que prepara um jantar
compõe-se para o grande teste:
o momento em que a vão provar.
Sente o calor de uma mão
e deseja que os dedos a perfurem
livrando-a da casca que defende
os volumosos gomos sem que depurem.
Um gomo rasgado pela pressão
derrama seu sumo por entre os dedos
e é sorvido por uns lábios quentes
que beijam outros sem medos.
Partilha do fruto proibido
sem fazer frente à vontade.
Dois corpos unidos num só
recordarão a laranja com saudade.
Gomos trincados, mordidos
que apimentam a noite de dois amantes.
Valeu o tempo de amadurecimento do fruto
que ali exponencia desejos insaciantes.
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