terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sufoco

Estar ao teu lado foi um sonho que realizei
mas não consigo deixar de me culpabilizar
porque se não tivesse vindo cá abaixo
ter-te-ia ao menos ouvido a gritar.

E gritaria contigo mesmo do outro lado da porta
para que alguém tivesse que vir a correr
dar-te assistência e o reforço da epidural
que iria diminuir o teu sofrer.

Sabíamos que não estava a correr bem
mas guardámos tudo em segredo
porque não queríamos aos nossos
transmitir todo aquele medo.

Não sabíamos como iria acabar
mas a esperança nunca nos abandonou
e enquanto esteve controlado
o tempo para nós apenas passou.

Conversámos, rimos e fizemos das nossas
e aprendi que a amar desempenhamos qualquer profissão
pois mesmo não sabendo o significado
decorei todo e qualquer palavrão.

Era a hipótese que tínhamos
para posteriormente perguntar
a quem de medicina entendesse
e esses palavrões nos pudesse explicar.

És uma heroína cheia de força
que amo sem conseguir quantificar
mas desde o dia 16 quinta feira
que de forma diferente te vou admirar.

Porque foste Mãe com sofrimento
e mesmo a correr mal enfrentaste o desconhecido
mas acredita que só não estive lá
porque não me foi permitido.

Estava angustiada pois imaginei tudo tão diferente,
sabia que iria chorar mas de alegria
quando te visse ser Mãe do teu rebento
e ouvi-lo berrar ao mundo na tua companhia.

Chorei de desespero e de desamparo
senti-me uma nulidade, passiva e inútil
pois uma barreira de seguranças conseguiu impedir-me
de correr para estar ao teu lado e te ser útil.

Perguntei vezes sem conta e fui insolente
mas de nada me valeu porque estavam a omitir
e pedi a um dos muitos pais que conheci nesse dia
que me desse notícias tuas ou pedisse para eu subir.

Recebo uma mensagem de mudança de quarto
respondo com outra a perguntar por ti,
mas poucos minutos mais tarde recebo os Parabéns
pois o Afonsinho tinha nascido e não imaginas o que sofri.

Só me lembrei de começar a correr
e ignorei seguranças e pedi no meu inconsciente:
não me queiram impedir do que estou a fazer
porque garanto que levo tudo à minha frente!

Cheguei junto a ti deitadinha e tranquila
numa maca no meio do corredor
estavas exausta com razão
porque o parto tinha sido um horror.

A enfermeira chefe quis tranquilizar-nos
e chamou-me para o Afonsinho me ser apresentado.
Disse-me que o parto tinha sido muito difícil
e que ele estava fraquinho e iria ser internado.

Tendo-me sido impossível pegar no telemóvel
para notícias dar a quem aguardava desesperado
começaram os telefonemas para o piso 6
e ordenei que o Pai fosse chamado.

A meio do caminho cruzei-me com ele
e com calma transmite o sucedido
mas as lágrimas dele fizeram cair as minhas
porque estava tão preocupado contigo.

Ele seguiu a correr pelo caminho que lhe indiquei.
Fiquei ali estarrecida a pensar no que iria dizer
segui em frente para enfrentar
quem estava por ti a sofrer.

Julguei aguentar-me forte depois daquela porta
mas estavam loucos e nem me deixavam falar
tive tempo de dizer em voz alta:
a Nês está bem mas o pequenino terá que lutar!

Contigo SEMPRE!

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